segunda-feira, 30 de junho de 2008

Entardecer em Caldas Novas-GO

Belíssimo entardecer em Caldas Novas-GO que nos faz refletir sobre a presença e a ação de Deus em nossas vidas. Somente Deus, em sua infinita bondade, poderia nos dar de presente algo tão belo.

Por do sol em Guapó-GO

Um belíssimo por do sol em Guapó-GO, outro maravilhoso presente do amor de Deus para a humanindade...

Por do sol em Caldas Novas

Para mim o por do sol é a minifestação maior da grandiosidade do amor de Deus pela humanindade. É um lindo presente que Deus dá a humanidade como prova do seu amor infinito. Contemplar esta maravilha da natureza é contemplar o amor de Deus e sua presença em nossa vida a nos abençoar e a nos dizer sempre: eu te amo.

Força e esperança em Antão

José Bakir

Força e esperança em Santo Antão

  1. Introdução:

A obra escolhida foi o escrito de Santo Atanásio que fala sobre a Vida e a Conduta de Santo Antão, um anacoreta. O desenvolvimento deste trabalho tem como objetivo ver a influencia e a força espiritual de Antão para sua época e para os tempos atuais.

Santo Antão do Deserto, também conhecido como Santo Antão do Egito, Santo Antão, o Grande, Santo Antão, o Eremita, Santo Antão, o Anacoreta1, ou ainda O Pai de todos os Monges, é comummente considerado como o fundador do monaquismo cristão. Uma vez que o seu nome latino é Antonius, em traduções displicentes de obras onde o seu nome figura para a língua portuguesa, o nome do santo tem sido vertido como António do Deserto, do Egito, o Grande, ... (nome que, de resto, mantém nas demais línguas europeias).

Conhecemos a sua vida graças ao relato que dela nos fez Santo Atanásio de Alexandria, na Vita Antonii, em português Vida e conduta de Santo Antão, cerca de 360. Segundo este, teria nascido em 251, na Tebaida, no Alto Egito, e falecido em 356, portanto com cento e cinco anos de idade.

Cristão fervoroso, com cerca de vinte anos tomou o Evangelho à letra e distribuiu todos os seus bens pelos pobres, partindo para viver em um sepulcro abandonado e, em seguida, no deserto. Aí, segundo o relato de Atanásio, e tal como sucedera com Jesus, foi tentado pelo Diabo. Porém, Antão resistiu às tentações e não se deixou seduzir pelas tentadoras visões que se multiplicavam à sua volta.

O seu nome começou a ganhar fama, e começou a ser venerado por numerosos visitantes, sendo visitado no deserto por inúmeros peregrinos.

Os religiosos que, tornando-se monges, adaptaram o modo de vida solitário de Antão, chamaram-se eremitas2 ou anacoretas, opondo-se aos cenobitas3 que escolheram viver em comunidades monásticas.

    1. O autor da obra:

O século IV, a idade de ouro da literatura cristã, nos oferece em seus umbrais a figura gigantesca de Atanásio de Alexandria, o homem cujo gênio contribuiu para o engrandecimento da Igreja muito mais que a benevolência imperial de Constantino. Seu nome está indissoluvelmente unido ao triunfo do Símbolo de Nicéia, que ainda hoje rezamos.

Deus nosso Senhor permitiu que houvesse várias heresias logo no início da Igreja. Com isso, ao refutá-las, os doutores foram explicitando a verdade católica a partir da Revelação e estabelecendo assim os fundamentos básicos sobre os quais se firmasse a verdadeira doutrina. Uma das heresias que mais dano causou à Igreja, a partir do século III, foi o arianismo, devido ao apoio que encontrou da parte de muitos bispos e imperadores. Ário começou a pregar uma nova doutrina, que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Alexandre, novo Patriarca de Alexandria, condenou-a como herética.

O Prelado4 foi a Alexandria para tentar fazer cessar a "epidemia" provocada pelo arianismo. Este, estando com Santo Atanásio, reconheceu logo sua ortodoxia; bem como a má-fé e erro de Ario. Por isso, aconselhou o Imperador a convocar um concílio em Nicéia, para condenar a nova heresia. Neste foi composto o famoso Credo de Nicéia, que alguns heresiarcas assinaram constrangidos, e outros, recusando-se a fazê-lo, foram exilados.

Foi ali, na grande assembléia, que um pequeno grande homem, secretário de Santo Alexandre, se fez notar pelo fogo de suas palavras, eloqüência e amor à ortodoxia católica. Era ele Atanásio.

Atanásio era uma dessas raras personalidades que deriva incomparavelmente mais de seus próprios dons naturais de intelecto do que do fortuito da descendência ou dos que o rodeiam. Sua carreira quase personifica uma crise na história da Cristandade, e pode-se dizer dele que mais deu forma aos acontecimentos em que tomou parte do que foi moldado por eles. A esta descrição psicológica devemos acrescentar sua fé profunda e inabalável, a serviço da qual colocou suas qualidades naturais.

De estatura abaixo da média (pelo que foi objeto de debique por parte do apóstata Juliano), segundo seus biógrafos, era de compleição magra, mas forte e enérgico. Tinha uma inteligência aguda, rápida intuição, era bondoso, acolhedor, afável, agradável na conversação, mas alerta e afiado no debate.

A História não guardou o nome de seus pais. Pela alta formação intelectual que ele demonstra ainda jovem, julga-se que pertencia à classe mais elevada.

Ainda adolescente, foi notado e apreciado por Santo Alexandre, que o tomou sob sua proteção e, com o tempo, o fez seu secretário. No Concílio de Nicéia ainda não havia recebido a ordenação. Mas, cinco meses depois, Santo Alexandre, ao falecer, designou-o como seu sucessor na Sé de Alexandria. Atanásio tinha apenas trinta anos de idade.

Triste herança recebeu o jovem bispo. Durante seus primeiros anos de episcopado, os melecianos e arianos juntaram-se para tumultuar o povo e lançar o espírito de revolta, de que se alimentam as heresias. Pois o arianismo, se bem que tivesse um suposto fundamento religioso, era mais um partido político de agitadores, como muitos movimentos da esquerda católica de hoje em dia. Não havia calúnia, difamação e ardil que os arianos não inventassem contra Atanásio, para minar sua autoridade.

O Imperador Constantino, perdendo sua mãe Santa Helena, ficou sob a influência de sua irmã Constância, conquistada pela heresia. A pedido dela, fez voltar do exílio os hereges exilados em Nicéia, enquanto perseguia os católicos ortodoxos.

Apenas retornado do exílio, Eusébio de Nicomédia convoca um concílio em Cesaréia, sede do outro Eusébio ariano, para condenar Santo Atanásio. Este é intimado a comparecer em Tiro — para onde o concílio havia sido transferido — a fim de responder às acusações assacadas contra ele.

Fizeram entrar uma mulher de cabelos desgrenhados que, com altos gritos, acusou o Santo de ter dela abusado. Um dos padres de Atanásio, percebendo o jogo, levantou-se e foi até a impostora, exclamando: "Como! Então é a mim que imputas esse crime?!". Ela, que não conhecia Atanásio, replicou: "Sim, é a ti. Eu bem te reconheço". Houve uma gargalhada geral, e a miserável fugiu cheia de confusão. Mas, isso não desarmou os impostores. Mostrando uma mão ressequida, afirmaram pertencer a um tal Arsênio, que havia tempos desaparecera, e certamente fora esquartejado por Atanásio para efeitos de magia. Atanásio faz entrar na sala o próprio Arsênio, que descobrira na solidão do deserto. Mostrando-o, disse aos acusadores: "Vejam Arsênio, com suas duas mãos. Como o Criador só nos deu duas, que meus adversários expliquem de onde tiraram essa terceira". Os hereges, confundidos, provocaram verdadeiro tumulto e suspenderam a sessão

Com calúnias e outros artifícios, os hereges, que gozavam do prestígio do poder imperial, conseguiram que o Santo fosse exilado cinco vezes.

O primeiro exílio, em Treveris, durou cinco anos e meio, terminando em 337 quando, com a morte de Constantino, seu filho do mesmo nome chamou Atanásio para ocupar novamente sua Sé. No ano anterior, Ário, sentindo-se mal quando era levado em triunfo pelos seus partidários, teve que retirar-se a um lugar escuso, onde morreu com as entranhas nas mãos.

Entretanto, morto o heresiarca, não morreu a heresia, que em 340 conseguiu impor um bispo herege em Alexandria, tendo Atanásio que fugir para o exílio em Roma. Foi bem acolhido pelo Papa, que condenou o intruso.

Atanásio passou três anos em Roma, onde introduziu os monges do Oriente. Publicou na Cidade Eterna grandes obras contra os hereges arianos. Em 343 foi exilado para a Gália.

A década de 346 a 356 foi o período de ouro para Atanásio na Sé de Alexandria. Pôde dedicar-se inteiramente ao ministério episcopal, instruindo o clero e o povo, dedicando-se aos necessitados e favorecendo a vida monástica. Sobretudo fortaleceu na fé os católicos fiéis.

Em um novo concílio, em Milão, em 356, os arianos obtiveram que Santo Atanásio fosse mais uma vez exilado. Ele retirou-se então para o deserto do alto Egito, levando uma vida de anacoreta durante os seis anos seguintes, vivendo com os monges e dedicando-se a seus escritos.

Com a subida de Juliano, o Apóstata, ao trono imperial, Atanásio pôde voltar, em 362, a Alexandria. Mas, pouco depois, ciumento do prestígio do Santo, o ímpio imperador mandou exilá-lo de novo. Não foi por muito tempo, pois Juliano faleceu no ano seguinte, depois de ter tentado restaurar no Império o paganismo. O novo imperador, Joviano, anulou o exílio de Atanásio, que voltou mais uma vez a Alexandria.

Favorecido com a boa vontade do novo Imperador, o patriarca pensava desta vez poder dedicar-se inteiramente às suas ovelhas. Joviano, entretanto, faleceu no ano seguinte, e Atanásio foi mais uma vez exilado. Conta-se que teve de refugiar-se durante quatro meses no túmulo de seu pai.

O povo de Alexandria não podia passar sem seu zeloso pastor. Recorreu nessa ocasião a Valente, irmão do Imperador ariano Valentiniano, e obteve que Atanásio pudesse voltar em paz à sua igreja.

Assim, depois de uma vida tão tumultuada e de tantos perigos, Santo Atanásio, como ressalta o Breviário Romano, "morreu em paz em seu leito", no dia 18 de janeiro de 373. Havia governado, com intervalos, durante 46 anos, a igreja (diocese) de Alexandria.

  1. A "Vida":

Tendo rompido todos os laços com o mundo, Antão se entrega à vida solitária: sua longa carreira se divide em quatro etapas, cada vez um isolamento mais completo. Estabelece-se ele primeiro na vizinhança imediata de sua aldeia natal para aproveitar-se dos conselhos dum ancião mais experimentado (este tempo é essencial: a vida do solitário é dura escola e não se aprende sem mestre). Depois, foi para um cemitério e se trancou dentro de uma sepultura pro vários anos. Depois, por quase vinte anos, no pequeno forte abandonado (os romanos tinham-nos construído ao longo das pistas entre o Nilo e o Mar Vermelho), e, para terminar, se entranha ainda mais no deserto.

Acredito que seja difícil para quem tem o pensamento influenciado pelo desenvolvimento do pensamento moderno compreender o que leva uma pessoa a abandonar toda a riqueza que possui, todos os bens, para poder viver uma vida de completo ascetismo e servidão a Deus. Neste mundo que se diz modernizado com os avanços tecnológicos e científicos, com a internet fazendo parte da vida das pessoas como algo essencial, enfim, com tudo que nos proporciona uma vida mais tranqüila e mais segura, é inconcebível alguém pensar em deixar tudo isto e viver uma vida de real despojamento e servidão a Deus.

Antão, através de seus ensinamentos e estilo de vida, nos ensina que se é capaz de realizar tais atos, basta querer e de fato se entregar inteiramente a esta ascese.

Antão, tendo recebido de Deus a lembrança dos santos como se a leitura tivesse sido feita para ele, saiu logo da igreja. Os bens que recebeu dos pais, trezentos aurures de excelente terra fértil, deu-os de presente às pessoas da aldeia, para não ser estorvado por eles, nem ele nem sua irmã. Vendeu todos os móveis e distribuiu aos pobres todo o dinheiro recebido, salvo pequena reserva para a irmã. 5

Este fragmento retirado da obra de Santo Atanásio, quando ele discorre sobre Antão, nos mostra a profundidade de uma vida voltada totalmente para o serviço a Deus

e ao próximo. Tomado de um forte sentimento de entrega e seguimento a Jesus Cristo por meio de seus ensinamentos deixados como legado nos evangelhos, ele resolve deixar tudo e ir ao encontro daquilo que ele julgava ser a felicidade.

Ainda que a "Vida" diga explicitamente que Santo Antão não foi o primeiro anacoreta, sustentando, por outro lado, que foi o primeiro a retirar-se para o deserto do Egito, e ainda que, além disso , seja muito difícil assinalar origens e iniciadores precisos num movimento humano tão complexo como o monástico, contudo, a figura de Antão se sobressai de forma tão extraordinária, que com razão é ele considerado pai da vida monástica e, especialmente, como modelo perfeito da vida solitária. Sua fama já em vida, acrescentada depois de sua morte, sobretudo através das páginas da "Vida", é inteiramente justa. Ao celebrar sua festa, de acordo com muito antigas tradições, a 17 de janeiro, os cristãos reconhecem o poder de Deus entre os homens, a força de sua sabedoria ao deixar-nos um exemplo em homem tão humilde, o dom de seu Espírito multiforme com a discrição e o alento fraterno do grande ancião.

  1. As lutas contra os demônios:

A vida de Santo Antão foi marcada pela presença viva e fortalecedora do Espírito de Deus. Desde quando tomou a decisão de seguir a vida ascética Antão foi atormentado pelo diabo que tentou fazer de tudo para que desistisse, mas, todas as investidas do demônio foram em vão. De acordo com Santo Atanásio, em suas constantes lutas contra o demônio que ocorreram no período em que esteve nos sepulcros que se encontravam longe da aldeia onde morava e no deserto onde se refugiou fora lhe ocorrido várias lutas contra o demônio. Talvez o demoníaco quisesse aproveitar do momento de fraqueza corporal em que se encontrava Antão.

    1. O deserto:

O deserto constitui, na revelação do Antigo e do Novo Testamento, um tema de atração particular. Sabemos que Israel teve no deserto as experiências mais imediatas da presença, do amor, da misericórdia de Deus, e que nele teve que lutar pela pureza de sua entrega, pela fidelidade a seu Deus. Para uma tradição, o deserto passou a ser inclusive um símbolo da relação mais pura, da "frescura" do primeiro amor entre Deus e Israel. Na medida, porém, em que Israel se fez sedentário, foi variando sua compreensão do deserto, e não viu nele senão algo terrível, cheio de ameaças e feras, onde ninguém podia viver. Deste modo, a meditação de sua própria história fê-lo perder a visão "poética" de sua peregrinação pelo deserto, e apercebeu-se de que essa época esteve cheia de pecado, de ofensa a Deus, a tal ponto que em certo momento o deserto chegou a ser símbolo do juízo condenatório de Deus. Já se vislumbra nisto a oscilação na consideração do deserto como habitação privilegiada de Deus e como lugar de sua ausência, horrível, cheio de perigos e tentações.

O Novo Testamento é igualmente devedor dessa dupla visão. É no deserto que São João Batista começa o anúncio do Reino de Deus, e para onde foge a Igreja perseguida do Apocalipse. É também a montanha solitária lugar preferido por Jesus para sua oração íntima. Mas o deserto é, além disso, morada do demônio, símbolo do obscuro e sem vida. Jesus é tentado no deserto e, segundo seu próprio ensinamento, esse é o lugar próprio dos demônios.

Seja qual for a origem dessa dupla imagem do deserto, o essencial é que participa do paradoxo de tudo o que conforma a relação de Deus com o homem. Não há lugar, nem tempo, nem coisa, nem pessoa que goze da unidade que só é própria de Deus. Tudo está marcado com o signo da ambigüidade. Tudo pode ser sinal da presença de Deus, tudo pode ser também tentação para esquecê-lo.

O deserto aparece então não sob a simplista concepção de uma fuga ou evasão do mundo, senão como aquela realidade de nosso mundo na qual, mais do que em nenhuma outra, se está com indefesa desnudez ante a única decisão que importa: por Deus ou contra ele. O deserto recorda ao homem sua pobreza e solidão essencial, sem as quais não se pode compreender nem a riqueza da criação nem a graça que significa a comunidade e o serviço aos homens.

É essa dupla visão caracterizada também pela "Vida". Santo Antão vai ao deserto, vai progressivamente em busca de maior solidão para poder se enfrentar com todas as incitações que pretendem envolvê-lo em sua complexidade, estorvando-lhe o caminho à recuperação de sua unidade. É o lugar de sua luta contra o demônio. À medida, porém, que seu progresso espiritual avança, o deserto se converte para ele em lugar privilegiado de seu encontro pessoal e místico com Deus. Esta é a finalidade verdadeira e última de toda austeridade, de toda vida ascética. Seria insensato crer que Santo Antão ou os monges esgotam sua vida na busca do demônio. Buscam primeiramente a Deus, mas sabem muito bem que esse caminho passa através de todas as ilusões demoníacas. As privações de todo tipo, a leitura e meditação da Palavra de Deus, a oração constante, são as armas para percorrer o caminho sem temer os perigos. Sua meta última é, porém, restaurar a imagem do homem tal como foi criado por Deus: dono, e não escravo do mundo, ao serviço do único Senhor do universo, e assinalar o estado último e definitivo, em que tudo é um, em que tudo é Sim e Amém.

    1. O sepulcro:

O sepulcro assume uma característica própria em Santo Antão como sendo um lugar de refúgio, de silêncio e de preparação para a luta que irá empreender com os demônios. A forma despojada e encorajadora como Antão encara a decisão de passar vários anos de sua vida dentro de um sepulcro vazio:

Assim, triunfando de si mesmo, Antão foi para os sepulcros que se encontram longe da aldeia, tendo recomendado a um de seus amigos que lhe levasse pão a longos intervalos. Entrou num dos túmulos, fechou a porta e lá permaneceu sozinho.6

Nesta firme decisão de Antão percebe-se a força e a determinação que o conduzira e que certamente permaneceria com ele mesmo quando estivesse na presença dos "demônios". Neste sentido o sepulcro acaba assumindo um papel de lugar de conflitos que levou Antão a enfrentar a si mesmo, seus demônios e a tudo aquilo que o atormentava e fazia com que ele se sentisse cada vez mais distante da Palavra de Deus e do próprio Deus.

O inimigo – como é chamado o demônio no livro de Santo Atanásio – tentou por várias vezes fazer com que Santo Antão desistisse daquela idéia, porém, não teve exitos em suas investidas contra Antão. As derrotas sofridas pelo demônio só ocorreram porque havia presente em Antão uma força espiritual infinitamente superior à força do demônio e à dele próprio. É uma força que vem do alto e que o impulsionou a enfrentar corajosamente as forças do mal, sem se deixar abater ou amedrontar por elas. As dores e os traumas causados pelos ataques demôniacos não foram suficientes para fazer Antão desistir de seu obejtivo.

4.3. A vida ascética:

É exatamente esta força misteriosa que o levava adiante que nos faz refletir sobre o que conduz um homem a tomar decisões como a de Antão. Neste sentido tanto o sepulcro, quanto o deserto acabam tornando-se um refúgio seguro para Antão onde ele

pudesse encontrar consigo mesmo. Este encontro consigo mesmo acaba por provocar uma espécie de relacionamento que o deixa aberto a estes conflitos, ficando, desta forma, aberto e frágil também à ação do tentador. Percebe-se que aí há a presença atuante desta força espiritual renovadora que o acalentava nos momentos pós-lutas e de fragilidade interior. O que é bonito de se perceber nesta caminhada espiritual de Antão é o fato de o demônio ter utilizado de todas as suas artimanhas para tentá-lo e fazê-lo desistir de seus objetivos, mas, não conseguiu: "Depois de várias tentativas, rangiam os dentes contra ele, furiosos por serem eles os vencidos, e não ele" (Atanásio, p. 304).

Esta ascese que impulsiona Antão a seguir adiante com seu propósito de vida se traduz em primeiro lugar como uma vida de penitência e de ascese sempre mais rigorosas: de essência bem diferente da ascese dos platônicos ou dos gnósticos7.

O ascetismo cristão tem o seu nascedouro nesta experiência cara aos Padres da Igreja. Naturarlmente tudo dependerá do contexto de civilização: os primeiros monges egípcios, estes rudes colonos comptas, partiam de um nível de vida tão baixo, que o seu ardor em reprimir a concupiscência os levará muias vezes a excessos para nós desconcrtantes na privação do conforto, da comida e do sono.

O asceta, para ele, é o único que pode conseguir anular o "querer viver universal" dentro de si mesmo, não apegar-se a nada e ir mais longe que os outros. O asceta, por isso, pode aconselhar outras pessoas. Só pelo ascetismo, alguém torna-se sereno e livre da ilusão. O primeiro passo que o homem precisa dar para uma superação da própria vontade é ter consigo uma castidade perfeita, uma castidade voluntária que o auxilie na negação da vontade. É exatamente essa abstenção dos prazeres que irá negar a própria vontade. Sabe-se que, na vida do homem a vontade está acima da vida individual e que, com a abstenção dos prazeres, a vontade só irá ter fim juntamente com o fim da vida do corpo, ou seja, com a morte do corpo encerra-se a vontade.

Esta ascese não se limita a um tal aspecto interior, psicológico: o solitário avança para o deserto, afim de enfrentar aí as forças do mal e muito precisamente o Demônio, suas tentações, seus assaltos. Daí o lugar que ocupa na vida de Antão estas diabruras que escandalizaram muitas vezes os leitores modernos. No entanto, temos que descobrir nelas, para além da confabulação, o significado teológico profundo.

É graças à purificação ascética que o homem se torna perfeitamente indiferente a tudo, e se desapega de tudo que o cerca. Neste sentido, pode-se entender que o homem está "morto" inteiramente à vida, ainda que esta possa continuar materialmente.

  1. Esperança em Antão:

A vida de Santo Antão tem muito a ensinar para as pessoas do nosso tempo. Algo que chama a atenção em seu modo de ser e de viver é esta força e esta esperança que ele transmite para quem resolve seguir seus ensinamentos.

Com o objetivo de ir ao encontro desta esperança que brota do mais profundo do ser humano é que fazemos junto com Antão uma viagem ao "deserto interior". É deste deserto que brota a "água límpida, suave e fresca" é onde se estende "um planalto, onde há palmeiras selvagens" (Atanásio, p. 335). Algo bonito de se perceber nesta peregrinação de Antão ao deserto iterior é a confiança depositada no Senhor e a tranquilidade em que encontrava seu espírito. Percebe-se que realmente era algo que contagiava as pessoas que o cercavam e contagia quem lê os escritos deixados a nós por Santo Atanásio:

Como está escrito (Sl 124), tinha verdadeiramente confiança no Senhor como na montanha de Sião, seu espírito estava tranquilo e sem perturbação: os demônios fugiam, e os animais selvagens, como está escrito (Jó 5, 23), faziam as pazes com ele.8

Com esta confiança no Senhor e com esta força espiritual Santo Antão vai vencendo as lutas contra o mal e superando todas as dificuldades que lhe sobrevem. Isto faz dele um grande homem, um grande santo em quem as passoas possam encontrar um ardor espiritual de grande beleza. Por causa deste ardor espiritual Antão era constantemente procurado para dar conselhos espirituais às pessoas que a ele acorriam.

Santo Antão tinha um nome tão "forte" que alguns bispos pediram a ele que refutasse os arianos que acreditavam que Antão pesnsavam como eles. Antão ensina ao povo que o "Filho de Deus não é criatura e que não foi tirado do nada, que ele é o Verbo e a Sabedoria da substância do Pai". Na luta contra as heresias também se percebe que há uma presença marcante de algo que é superior ao santo, que o impulsiona a ir contra toda a falsidade ideológica pregada pelos arianos. É desta força que brota a esperança, mas, trata-se de uma esperança que, em Antão, não se esgota em sim mesma, que vai além do humano e que retorna como força para continuar lutando.

Tudo isto não seria possível se não tivesse uma forma de abastecer-se, embriagar-se desta força espiritual que vem de Deus. Mas, para alcançar a plenitude desta força espiritual é necessário o "deserto", a solidão. Deserto e solidão assume uma dimensão figurada para dizer que é necessário esvaziar-se de si mesmo para preencher-se desta força espiritual que vem de Deus. Antão nos ensina que é preciso estarmos sempre firmes neste deserto interior para encontrarmos conosco mesmo, com nossas limitações, com nossos demônios, para poder ter este encontro bonito com Deus, com esta força superior que vem de Deus. Somente agindo desta forma teremos sempre presente em nossas vidas esta força e esta esperança e seremos capazes de continuarmos lutando.

Antão desde a juventude até idade tão avançada, conservou igual ardor na ascese. É perceptível neste homem a ação de Deus, pois, ele ficou conhecido em várias regiões mesmo estando assentado e escondido no sepulcro ou nas montanhas. Para alguns ler e conhecer o que este homem fez pode ser sinônimo de loucura, mas, acima de tudo e de qualquer loucura está a força e a esperança. É uma força que vem de Deus e que tem a esperança como fruto da vevência e da perseverança no amor.

  1. Conclusão:

A vida de Santo Antão é algo que nos conduz a olharmos para dentro de nós mesmos e fazermos uma reflexão interior. Nesta reflexão interior ir percebendo de que forma estamos respondendo à nossa vocação de batizados que somos, como estamos desenvolvendo a missão que recebemos pelo nosso batismo.

Antão nos ensina a viver e ater uma vida de total despojamento e entrega ao serviço do Reino. Para isto o Santo nos ensina que é fundamental escutar e acolher a palavra de Deus que é fonte de inspiração para se ter uma vida mais santa. Percebe-se que para acolher e viver a mensagem que a Palavra de Deus nos traz é preciso estar aberto a esta mensagem e ter coragem, pois, no mundo em que vivemos não é fácil ser cristão. Este despojamento, esta entrega total ao Reino de Deus, a escuta e acolhida da Palavra, são frutos de um processo que cada um é chamado a viver a partir do batismo. Nem todos são capazes de assumir isto para si. É exatamente isto que Santo Antão quer nos mostrar e ensinar.

É interessante perceber que, na vivência deste processo, Santo Antão nos ensina que a dificuldade está em aceitar o deserto e o sepulcro como sendo algo que está no interior do ser humano. É no contato com o sepulcro interior que o ser humano vai entrar em contato consigo mesmo, com suas dificuldades, suas "podridões" e seus "demônios". É no deserto interior que o ser humano vai entrar em contato com sua mais profunda solidão, com os "animais" que habitam esta solidão, vai ter contato com seus medos, seus desejos, seus anseios, seus sonhos, suas utopias. Estas lutas constantes consigo mesmo o faz crescer e querer avançar cada vez mais para dentro deste sepulcro e deste deserto interior.

Em Antão percebe-se que há a presença de uma força que não o deixa desanimar, que faz com ele continue lutando e vencendo todas as lutas. É esta força que alimenta em Antão uma esperança em ter uma vida de dedicação e de escuta da Palavra de Deus e, a partir da experiência e da vivência do que Deus diz, assumir a missão que recebeu. Que esta força e esta esperança que vem de Santo Antão não nos deixe desanimar diante das dificuldades que encontrarmos que entrarmos em contato com o sepulcro, com o deserto e a montanha que está no nosso interior.

  1. Bibliografia:

ATANÁSIO. Vida e conduta de Santo Antão. São Paulo: Paulus, 2002 (pp. 285-367)

DANIÉLOU, Jean e MARROU, Henri. Nova História da Igreja: dos primórdios a São Gregório Magno. Petróplis: Vozes, 1973 (279-283)

DROBNER, Hubertus R.. Manual de Patrologia. Petrópolis: Vozes, 2003 (pp. 255-263)

http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/monaquismo/vida_de_santo_antao_indice.htm

1 Religioso ou penitente que vive na solidão, em vida contemplativa.

2 Pessoas que vivem no deserto por penitência

3 Monges que levam a vida em comum com outros.

4 Título honorífico de digntário eclesiástico

5 ATANASIO, Santo. Vida e conduta de Santo Antão. (p. 296)

6 Idem nota 2 p. 302

7 Gnosticismo: designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose, com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos. Este movimento revindicava a posse de conhecimentos secretos (a "gnose apócrifa", em grego) que, segundo eles, os tornava diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento. Originou-se provavelmente na Ásia menor, e tem como base as filosofias pagãs, que floresciam na Babilônia, Egito, Síria e Grécia.

8 Idem nota 2 p. 336

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