sábado, 26 de fevereiro de 2011

EUTANASIA (por José Bakir de Amorim)

A concepção do que seja morrer mudou com a revolução técno-científica e a morte se torna um tabu. O desenvolvimento da técnica traz consigo uma interferência sempre maior no processo do morrer, tirando da família a responsabilidade e passando para os profissionais de saúde. O termo “eutanásia” evoluiu de morte em paz, sem dor, para o ato deliberado em que a pessoa mesma priva a sua vida, pois, esta não tem mais sentido para ela ou para a sociedade.
No que diz respeito à eutanásia os argumentos éticos usados estão, quase sempre, em referência à vida. Os que defendem, o fazem segundo a defesa de uma qualidade de vida. Para estes, uma vida sem qualidade não vale a pena ser vivida. Baseiam-se na autonomia do sujeito que teria o direito ao próprio processo de morte. Os que condenam o fazem partindo da concepção sagrada da vida. A discussão precisa ir a um problema de fundo, no caso, o que se entende por qualidade de vida. Reduzir a qualidade de vida apenas ao físico é negar as dimensões psíquica, espiritual e relacional do ser humano.
Outro ponto é com qual paradigma se está partindo para a discussão, Junges fala de dois: do individualista-libertário, centrado na concepção do sujeito autônomo e nos direitos subjetivos de indivíduos singulares; e do intersubjetivo-relacional, fundado nas relações de interdependência e não compreensão do sujeito como ser-de-relações. Outro ponto ético diz respeito ao uso dos meios. Estes, tanto no prolongar a vida, quanto no abreviar, mostram-se desproporcionais e desumanizantes.
É preciso dizer que o reclamar o direito à morte pode revelar um grito de protesto contra a solidão em que se encontra o paciente, tirado do controle de seu processo mortis. É um grito pedindo solidariedade. Portanto, a prática da eutanásia, como tal, se mostra eticamente inaceitável, pois, nega, da parte de quem pede a sua dimensão relacional e, da parte de quem pratica o valor do outro como fim em si mesmo, transformando-o em meio. há a questão do avanço da medicina e o “encarniçamento terapêutico”...
Também não se pode esquecer do aspecto social. Diante de uma população mundial miserável que tem a morte como vizinha, exigir morrer por causa da qualidade de vida é uma afronta.