segunda-feira, 14 de maio de 2012

ANÁLISE DA BENÇÃO DO ÓLEO DOS ENFERMOS NA QUINTA-FEIRA SANTA, DA FÓRMULA DA UNÇÃO DOS ENFERMOS E DO TEXTO DO CONCÍLIO DE TRENTO (POR JOSÉ BAKIR)

"Ó Deus, Pai de toda consolação,
que pelo vosso Filho
quisestes curar os males dos enfermos,
atendei à oração de nossa fé:
enviai do céu o vosso Espírito Santo Paráclito
sobre este óleo generoso,
que por vossa bondade a oliveira nos fornece
para alívio do corpo,
a fim de que pela vossa santa  bênção
seja para todos que com ele forem ungidos
proteção do corpo, da alma e do espírito,
libertando-os de toda dor,
toda fraqueza e enfermidade.
Dignai-vos abençoar para nós, ó Pai,
o vosso óleo santo,
em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Que convosco vive e reina
na unidade do Espírito Santo. Amém"
    
     Ao analisarmos a bênção do óleo dos enfermos, percebemos o quão abrangente é seu significado, pois, a cura é mais do que uma simples cura (cf. Mt 25). Com isto se percebe que o cuidado com os enfermos é sinal do Reino de Deus, pertence à missão de Jesus e dos seus seguidores. As curas feitas por Jesus são gestos simbólicos.
     A benção do óleo é introduzida por uma saudação utilizada por São Paulo. É uma fórmula corrente na piedade de Israel que, aqui na benção do óleo dos enfermos, se refere ao Deus que é Pai e que, como pai, consola seus filhos em todos os momentos, inclusive na enfermidade. O que se pede, na benção do óleo, é a cura das enfermidades, mas, acima de tudo que seja feita a vontade do Pai. É preciso recordar que a vontade do Pai é curar e libertar seus filhos. Esta vontade se realiza por meio do Filho que se fez homem e viveu como nós em tudo, menos no pecado. Ao realizar a vontade do Pai, Jesus mostra esta sintonia existente entre ele e o Pai.
     A benção é uma oração de petição. Em Tg 5, 15 a fé dos oficiantes obtém a saúde do doente, que pelo contexto deve ser a saúde corporal. Pode ser que a doença seja efeito de algum pecado, de acordo com a crença antiga (cf. Sl 38, 4-6). Neste caso, por meio do rito, os pecados lhe serão perdoados. A oração da fé (linha 4) não é uma fórmula que acompanha a unção. Trata-se de uma oração comunitária, pois o doente não está isolado da comunidade. É uma oração que pede algo, isto é, pede salvação e, conforme o caso, pede também perdão dos pecados. Quem pede, pede alguma coisa (linhas 5-9) e, no caso da Benção do óleo dos enfermos, se pede a ação do Espírito Santo Paráclito sobre o óleo. É a graça que Deus dá com o objetivo de salvar e reanimar o que está enfermo. Entende-se salvar como algo que diz mais do que a cura física e reanimar é uma palavra que vem da mesma raiz grega que significa ressuscitar.
     A benção do óleo dos enfermos é benção que vem de Deus (linhas 10-14) e, por meio desta, a ação do Espírito Santo sobre todos aqueles que forem ungidos pelo óleo dos enfermos. É benção que é, ao mesmo tempo, proteção do corpo, da alma e do espírito, ou seja, do homem em sua totalidade (linha 12). Nem morte nem lágrimas, mas, a liberdade de toda dor e de todo sofrimento conquistada em Cristo. O messias toma sobre si o sofrimento para poupá-lo a outros, é salvador por amor (linhas 13-14). As curas são muito mais que sinais apologéticos, pois, nelas apareceu a bondade do nosso Deus e Salvador e seu amor pelo homem (cf. Tt 3, 4).
     A fórmula da unção dos enfermos, que tem seu fundamento em Tg 5, 14-15, é a expressão da misericórdia de Deus que é infinita. Quem ministra a unção dos enfermos são os presbíteros, mas, trata-se de algo que é ministrado em nome do Senhor (cf. Tg 5, 14d). Desta forma, procura expressar a força simbólica do sacramento. A graça a ser conferida é a ação do Espírito Santo para que o enfermo seja liberto e salvo na bondade do Senhor.
     O Concílio de Trento vê a oração da fé como um meio de salvação e o alivio de todos os males e tormentos do corpo como a ação do Senhor na vida do enfermo. Isto se dá por meio da ação do Espírito Santo que é quem interage entre o homem e Deus. Esta é a graça a ser conferida, isto é, a ação do Espírito como algo que gere uma vida nova curando o enfermo e perdoando pecados (se tiver). Para Trento é nesta força que vem Deus, por meio do Espírito Santo, que está a consolação e a confirmação da alma do doente, pois, esta vida gerada pela ação do Espírito é algo consolador e confortador, mesmo que o doente venha a morrer.
     Sendo o sacramento da salvação do enfermo como um todo, a Unção dos Enfermos é essencialmente o sacramento da esperança e não do desespero. Requer um ambiente onde vigore a alegria e a serenidade.

BIBLIOGRAFIA:
SHÖKEL, Luis Alonso. Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2002.
VENDRAME, Calisto. A unção dos enfermos. São Paulo: Paulinas, 1974
BOROBIO, Dionísio. A celebração na Igreja, vol. II. Sacramentos: “Unção dos Enfermos. São Paulo: Loyola, 1993 (pp. 539-614)