segunda-feira, 21 de março de 2011

O HUMANO: LUGAR DO SAGRADO (por José Bakir de Amorim)

A vida do ser humano é uma busca constante do sentido de sua existência. Para existir como humanidade, deve construir as condições de sobrevivência, que só se tornou possível em comunidade, onde através do conhecimento, indivíduo e comunidade se modificam.
O conhecimento, movido pela curiosidade e urgência de sobreviver, utiliza instrumentos e condições, definindo a identidade humana em dois planos: Indivíduo a sujeito original que vive num contexto. Contexto sócio cultural à família, trabalho, educação e lazer. A consciência de si mesma da pessoa é desenvolvida a partir da integração entre o plano individual e sócio cultural. A base das relações entre indivíduo e sociedade é a linguagem, que é a maneira mais complexa criada pelo homem para se relacionar com o mundo, caracterizando nossa maneira de ser e estar nele.
A linguagem permite a preservação da memória coletiva da sociedade, assim, conhecimento e linguagem permitem relacionar, interpretar e construir modos de inserção na realidade e, na capacidade de reflexão, mostra que o agir humano vai além da pura materialidade. O primeiro nível do conhecimento, pragmático, resulta da repetição sistemática dos elementos do cotidiano. O saber operativo resulta da constatação de eventuais semelhanças entre objetos e fenômenos sem critério crítico, senso comum. A pessoa, ao nascer, se encontra em uma circunstância, onde tentará superar as condições impostas, e ao deixar-se envolver por objetos e experiências que o fazem fugir da rotina, permite-se ao indivíduo, transcender o nível pragmático de existência. O afastamento do cotidiano aliado a essa tomada de consciência já insinua uma dimensão de sacralidade.
Através dos mitos e seus símbolos é que a imagem do mundo é desenhada e se esboça uma mediação entre imanência e transcendência. Através dos mitos, o homem transpõe sua temporalidade, sendo a religião a principal experiência que rege o universo místico. O conhecimento científico se caracteriza pela objetividade, a Filosofia é orientada por princípios racionais. Mas, apesar da contribuição Filosófica e Científica no processo de humanização, persiste a relação do humano com o transcendente o conhecimento teológico. A busca de sentido para a vida e a morte faz parte de uma perene tentativa de a humanidade manter contato com o Transcendente e se materializa em diferentes concepções religiosas. As mudanças necessárias à construção do humano exigem também a transformação das subjetividades pessoais e coletivas, encontrando a cada dia, um sentido novo de viver.
A partir de então se percebe que, para que haja de fato um novo sentido de viver, é necessária uma relação entre uma atividade filosófica e ética. A atividade filosófica, como busca do conhecimento verdadeiro, ampliado e aprofundado da humanidade realiza uma reflexão ética. O costume (significado de moral e ética) é uma forma de transcender a natureza e realizar ações dotadas de valor.
A moral nos faz perguntar: Que devo fazer? Como devo agir? Portanto, é o conjunto de valores, princípios e regras, noções de bem e mal, que norteiam o comportamento humano. Seu núcleo está na responsabilidade, e daí a liberdade. Liberdade, consciência do dever, vontade (autocontrole), relacionadas à determinação de regras sociais são os componentes da ação moral. A conduta Moral (verdadeiramente humana) visa sempre um determinado fim, concretizar um bem. Um dos nomes a isso é: felicidade, que só vem da satisfação Moral, logo só é viável na perspectiva da solidariedade. Não há bem, senão na relação com os outros. É pela mediação dos outros que cada homem se constitui sujeito livre e responsável, assim, qualquer modo de dominação frustra o processo de humanização do homem.
No interior da experiência religiosa, a ética encontra sua expressão cultural mais antiga e mais universal. Cabe à Ética perguntar os porquês das ações e juízos morais, e suas proposições devem ter o mesmo rigor, coerência e fundamentação das proposições científicas. Hoje, a Ética constitui um desafio, pois possui um sistema preocupante: o cinismo, ou, indiferença diante dos valores, que leva à desesperança, à negação da utopia, perdendo-se o sentido da construção humana. Aí aparece novamente a esperança. A esperança coloca à humanidade o desafio de construir o possível, criar uma sociedade na qual a questão da moralidade seria questão de todos e cada um. A esperança é uma virtude tão humana que ganhou um caráter teológico – a ela se articula a fé. Ambas não nos deixam ficar parados nos colocando diante de um ativismo que nos conduz às relações, pois, somos dotados de dinamicidade.
O ser humano é um ser de relações e se encontra imerso na provisoriedade. Relaciona-se de múltiplas formas com a natureza, a sociedade e com o Transcendente, assim almeja alguma solidez a provisoriedade.
O Trabalho é a tentativa de superar as limitações impostas pela natureza. A autoconsciência é sintoma da transcendência. A se ver ameaçado pela natureza, ele sobrevive mediante a produção de cultura. A força da ação humana consiste em ter a transcendência como origem de seus projetos e método de trabalho enquanto desejo e utopia. A recusa à transcendência é trágica ao ser humano, pois o torna resignado em sua mediocridade.
A certeza da morte do espaço ao anseio de eternidade e de superação. A religiosidade é, portanto, intrínseca à natureza humana – anseio de apreender a totalidade da vida e do mundo. Seu fundamento é a esperança de uma vida mais forte que a morte e a percepção de forças superiores. A racionalidade moderna desconsidera a religião e não percebe a relação com o Transcendente, como uma dimensão radicalmente humana. Não seria a voracidade do consumismo, uma pulsação da fome pelo sagrado? A identidade humana passa pelo encontro com o Absoluto: aí o provisório faz sua síntese com o eterno. VIDAL, Marciano. Moral de atitudes. Probelmas metodológicos e de conteúdo da chamada “moral fundamental”. Aparecida: Santuário, 1975. pp. 79-89

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