terça-feira, 1 de julho de 2008

O Pai Misericordioso (Lc 15, 11-32)

José Bakir

O PAI MISERICORDIOSO (Lc 15, 11-32)

  1. Introdução:

Este trabalho visa elaborar uma reflexão a cerca da Parábola do Filho pródigo (ou Pai misericordioso) que está em Lc 15, 11-32. O capítulo 15 é o coração do evangelho de Lucas e é marcado pela narrativa das parábolas dos perdidos encontrados, sendo que a do filho perdido é o culme do capítulo. As três parábolas são marcadaspela procura, pela alegria – que em Lc trata-se da alegria escatológica – e pela espera. Este trabalho se atém apenas na última párabola, a qual será desenvolvido analisando as três personagens que aparecem nesta narrativa: o filho mais novo, o filho mais velho e o pai, procurando perceber suas reações, seus sentimentos e comportamentos.

  1. O filho mais novo:

Num primeiro momento ater-se-á à pessoa do filho mais novo (aquele que sai de casa) e também à pessoa do pai e na forma como ele relaciona com filho mais novo.

Rezando bastante sobre as atitudes e os pensamentos dos dois pode-se concluir que é preciso ter coragem e ser misericordioso. Ter a coragem que o filho mais novo teve quando decidiu sair de casa, rompendo assim com toda uma estrutura familiar, religiosa e moral de sua época. Ter a coragem que ele teve quando decidiu voltar para casa, pois, ele tinha consciência do que fez, da vida depravada e desregrada que levou e do estado emocional que ficaram seu pai e seu irmão mais velho.

O filho mais novo começa a viver um processo de conversão que se dá no mais íntimo do exílio humano. O estado de desolação e solidão em que se encontra representa toda a miséria humana, toda a fragilidade humana, o extremo da humilhação humana e a necessidade que o homem tem de se reconhecer como um fraco. É quando cai em si e resolve voltar: "Quantos empregados de meu pai tem pão cm fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou me levantar, procurar meu pai e dizer a ele: Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não sou digno de ser chamado seu filho. Trata-me como um dos teus empregados" (Lc 15, 17-19). Com relação a esta parte a bibliografia utilizada diz:

O início do processo de conversão situa-se exatamente aí. No exílio, na iminência de morrer de fome, o filho percebe e reconhece que a verdadeira causa da miséria em que se encontra foi a ruptura da comunhão com o pai. Ao reconhecimento das conseqüências dessa ruptura segue-se uma nova decisão, uma virada no rumo de sua vida. O filho pródigo, agora perdido, decide fazer o caminho de volta para casa do pai. 1

Ele reconhece seus erros e seus defeitos e teve coragem de assumi-los, voltando para casa.

O gesto de voltar para casa quer dizer: eu reconheço que errei e quero recomeçar. Ser misericordioso com as pessoas foi a mais bela demonstração de amor que o pai teve para com seu filho. No instante em que o pai vê seu filho voltando, ele corre para abraçá-lo e cobri-lo de beijos. Este gesto quer dizer: tudo que você fez ficou no passado, o importante é que você voltou para sua casa. A imagem do pai misericordioso que São Lucas nos transmite é belíssima. Ser misericordioso com as pessoas é a mais bela demonstração de amor, é ser capaz de esquecer os erros e as mágoas do passado, é deixar a pessoa "voltar para casa" e acolhê-la bem.

  1. O filho mais velho:

A pessoa do Filho mais velho (aquele que permanece em casa) e o relacionamento do pai misericordioso para com ele é algo intrigante. Ele é caracterizado como o único futuro herdeiro (v. 31). Em um primeiro momento pode-se até pensar em dar razão ao filho mais velho por sua atitude de não aceitação do gesto do pai de acolher com uma festa o filho mais novo.

Analisando a situação com a mentalidade da época de Jesus, o filho mais velho tem toda razão em não entrar na casa e de não querer participar da festa, pois, o filho caçula havia se tornado impuro ao conviver com prostitutas. Para um judeu da época conviver com pessoas impuras era algo inconcebível. Além do mais, se ele entrasse e participasse da festa, ele estaria sendo cúmplice e concordando com algo que para um judeu era inconcebível. O filho mais velho zela apenas pelo cumprimento da lei, falta a ele a capacidade de ir além do que está contido na lei, falta-lhe a caridade fraterna. Ele não consegue captar o que se passa no íntimo do coração do pai e do filho que volta.

Também se pode refletir sobre os seguintes questionamentos: se o dinheiro não tivesse acabado? Se não houvesse fome e nem desemprego na região? Será que o filho mais novo teria voltado para casa? Quem garante que ele não sairia de casa novamente? São questionamentos e sentimentos que o filho mais velho tem e que representa tudo o que se passa na cabeça e no coração dos fariseus. Sua imagem é dos "piedosos" de Israel. Ele aborrece-se e revolta-se contra o gesto do pai, protesta contra o risco que corre a ordem moral, contra essa misericórdia incompreensível.

"Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo" (v. 26). Esta pergunta é marcada pelo sentimento do medo, da insegurança, da incerteza. São sentimentos que invadem o ser humano quando se sentem fragilizados pelos acontecimentos da vida. Muitas vezes somos surpreendidos por estes acontecimentos, eles acontecem quando menos esperamos. Porque não ama, não se sente amado; e porque não se sente amado, é desconfiado e ciumento. Percebe-se um despreparo para acolher o Evangelho: "Mas, o irmão mais velho não estava preparado para receber uma 'boa notícia'" (Barreiro, p. 67). Ao invés de alegrar-se ele enche-se de raiva e não quer entrar.

Em um segundo momento aparece a pessoa do pai novamente com toda sua misericórdia. É o pai que, mais uma vez, vai ao encontro do filho – desta vez o mais velho (v. 28b) – e procura mostrar para ele que acima de qualquer mágoa, acima de qualquer lei ou religiosidade opressora, está o amor. Percebe-se que quem realmente está longe da casa do pai é o filho mais velho, pois, o filho mais novo mesmo estando em lugar distante pensa na casa do pai, ao passo que o filho mais velho nem sequer o chama de pai.

  1. O pai:

Neste trecho do evangelho de Lucas a figura do pai é marcada por uma característica que lhe é peculiar: o fazer-se próximo (cf.vv.20b e 28). Nesta característica ele deixa transparecer a presença marcante e inquietante do amor. Um amor que é traduzido pela misericórdia do pai e que é o centro da parábola.

A manifestação deste amor na figura paterna que o evangelista nos apresnta é algo que nos impulsiona a agirmos com um impulso expontaneo na direção do meu próximo. Lucas apresenta um Deus que vem ao encontro do ser humano em sua sujeira, em sua pequenez, em sua "humanidade ferida e profanada". O evangelista faz isto para mostrar que o Reino de Deus não se compara ao reino humano, mas, supera todas as barreiras e limitações impostas pela opressão. É uma atitude que nos levanta, nos honra e nos traz de volta a alegria de viver e a dignidade. "O amor de Deus antecipa-se nos seus gestos às expressões do nosso arrependimento".

Quando o filho mais novo resolve sair de casa o pai não o repreende, deixo-o usar da sualiberdade de filho. O pai fica a esperar ancioso pelo regresso daquele que saiu de sua casa, mesmo sem saber quando ele voltaria e se ele votaria. Quando resolve voltar da mesma forma não o repreende e nem faz nenhum tipo de comentário, mas, o acolhe. Não diz uma única palavra quando reencontra o filh, seus sentimentos são transmitidos por meio de gestos: corre ao encontro, abraça-o e o cobre de beijos. Aqui se percebe que a figura do pai é de um pai que perdoa e devolve a seus filhos a dignidade perdida.

No final da parábola mais uma vez o pai vai ao encontro do filho, só que desta vez é o filho mais velho. Acredita-se que seja este o ponto mais importante da parábola que Lucas quis transmitir: a discursão do filho mais velho com seu Pai. O filho mais velho é Israel e ele se aborrece pelo fato de voltarem os perdidos. Irrita-se porque organizam um banquete para aqueles que estavam já esquecidos. Pensou que a casa fosse sua e não quis preocupar-se com os outros. O pai, ao invés, busca o pobre. Representa a atutude de Jesus Cristo que se ocupa dos homens que se acham esquecidos e perdidos, pecadores, publicanos e gentios. A defesa do perdão e a atitude de Crista fica clara.

A imagem de Deus que Jesus quer passar é de um Deus que é próximo do seu povo e que o ama.

O que Jesus quer nos mostrar nesta parábola é o modo como Deus, nosso Pai, se comporta conosco, seus filhos; como ele pensa e sente, age e reage diante dos nossos comportamentos. Porque o mais surpreendente e o mais comovente na parábola é o comportamento do pai,..."2

Trata-se de um comportamento que deixa transparecer um amor que respeita a liberdade do outro, que perdoa, que acolhe e que se alegra como o retorno do outro e que nos impulsiona a irmos ao encontro do próximo (sacrifício).

  1. Conclusão:

Outro detalhe importante desta parábola é a questão da festa. O pai convida o filho mais velho para que também ele faça parte desta festa, desta alegria da ressurreição e do reencontro. "O pai saiu para suplicar-lhe" (v. 28b).

A narração da parábola é interrompida, sem revelar o que o pai faraá como filho mais velh. Jesus não julga, mas oferece a salvação. Quer dalvar também os fariseus. Todos necessitam de conversão, tanto os pecadores, como aqueles que se julgam justos.

O evangelista Lucas, de forma proposital, termina a história sem nos dizer se o filho mais velho entra ou não. Fica para nós respondermos a seguinte pergunta: o filho mais velho entra ou não entra na festa? Acredito que para dar esta resposta cada um deve assumir o papel do filho mais velho e decidir se entra ou não nesta festa. Cabe a cada um de nós refletir se está ou não preparado para fazer parte desta festa.

A festa da alegria, da ressurreição e do reencontro já começou, o convite foi feito a todos nós. Estamos prontos para aceitar este convite e fazer parte desta festa?

  1. Bibliografia:

Bíblia de Jerusalém com notas.

BARREIRO, Álvaro. A parábola do pai misericordioso à luz do quadro de Rembrandt. "O regresso do Filho Pródigo". São Paulo: Loyola, 1998

STOGER, Alois. O Evangelho Segundo Lucas. Petrópolis: Vozes 19674 (Col. Novo Testamento Comentário e Mensagem)

PIKAZA, Javier. A teologia de Lucas. São Paulo: Paulinas, 1985

1 BARREIRO, Álvaro. A parábola do Pai misericordioso à luz do quadro de Rembrandt. "O regresso do Filho pródigo". São Paulo: Loyola, 1998 (p. 53)

2 Idem nota 1, pag. 89

Um comentário:

diva ramos da costa disse...

muito boa a explicaçao me ajudou muiiiiiiiiito