quinta-feira, 27 de junho de 2013

Evangelho Mt 8, 1-4

         Esta narrativa de hoje, dentro da dinâmica catequética de Mateus, pertence ao início do segundo livrinho “A dinâmica do Reino”. Para Mateus o Reino de Deus não é algo estático, mas se trata de algo dinâmico onde, dentro dessa dinamicidade, Jesus vai mostrar e tomar consciência do seu messianismo. Dessa forma, mostrará em que a Justiça do Reino supera a justiça dos homens.
Esta primeira parte do segundo livrinho é narrativa, onde o evangelista fará o relato dos dez milagres: a cura de um leproso (8, 1-4); cura do servo de um centurião (8, 5-13); cura da sogra de Pedro (8, 14-15); diversas curas (8, 16-17); a tempestade acalmada (8, 23-27); cura de um paralítico (9, 1-8); a ressurreição da filha de Jairo (9, 18-19.23-26); cura de uma hemorroíssa (9, 20-22); cura de dois cegos (9, 27-31); cura de um endemoninhado mudo (9, 32-34). Com isso Mateus quer mostrar a autoridade de Jesus.
Nesse episódio de hoje há algo que nos chama a atenção. O leproso sabia que quem estava em sua frente era Jesus, o filho de Deus, o Messias, aquele que tinha o poder para livrá-lo de vez da sua enfermidade. No entanto, para surpresa de todos, inclusive de Jesus, ele não pede a cura. Ele pede para ser purificado. Percebe-se, então, que há um mal muito maior e que precisa ser curado. O leproso era um marginalizado da vida social. Através da cura, Jesus o reintegra na comunidade. O verdadeiro cumprimento da lei não é declarar quem é puro ou impuro, mas fazer com que a pessoa fique purificada.
Peçamos ao Deus da vida que nós estejamos sempre prontos para escutar a sua Palavra e vivenciá-la no coração, na vida e na missão (Shemá). Que Ele esteja sempre conosco nos ajudando a identificar as “lepras” da nossa sociedade para que sejam transformadas em sinais de vida. Que o amor de Deus esteja sempre em nossos corações. Amém!

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Evangelho de Mt 6, 19-23

           Este evangelho de hoje ainda pertence ao conhecido “Sermão da montanha”, um longo discurso que Jesus profere onde ele vai dar alguns ensinamentos e orientações para a multidão. Lembrando que, dentro da dinâmica catequética de Mateus, estamos dentro do primeiro livrinho que trabalha “A Justiça do Reino”.
            Neste discurso, Mateus realmente quer desenvolver em cada um de nós a dimensão dos valores que são fundamentais para as nossas vidas. Desta forma, o evangelista já nos prepara para o episódio que vem a seguir que é o lindíssimo e antropológico discurso dos lírios do campo, que é conhecido como “Olhai os lírios do campo”. O discurso dos lírios do campo nos mostra o verdadeiro valor que o ser humano tem aos olhos de Deus e nos leva a fazermos vários questionamentos, como por exemplo: Qual o valor que o ser humano tem para mim? O quê a presença do outro em minha vida me traz, me desperta? Qual o lugar Deus ocupa em minha vida e em meu coração? (Cf. Mt 6, 25-34 e Sl 8).
            Todo ser humano, consciente ou inconscientemente, tem na vida um valor fundamental, um absoluto que determina toda a sua forma de ser e viver. Em nossas vidas, qual é o absoluto: Deus ou as riquezas? Deus leva o ser humano à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade. As riquezas são resultado da opressão e da exploração, levando o ser humano à escravidão e à morte. É preciso escolher a qual dos dois queremos servir. “Hoje eu tomo o céu e a terra como testemunhas contra vocês: Eu lhes propus a vida ou a morte, a benção ou a maldição. Escolhe, portanto, a vida para que você e seus descendentes possam viver” (Dt 30, 19).
            Aprendamos, pois, com Jesus a olhar para o homem e para a mulher e ver aquilo que eles realmente são: seres humanos. E como todo ser humano merecem e devem ser respeitados e, acima de tudo, amados. Que os nossos olhos sejam verdadeiramente as lâmpadas do nosso coração. Que o nosso olhar para a humanidade seja o olhar misericordioso, cheio de ternura e acolhedor de Jesus para com nossos irmãos e irmãs. Amém!   

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Mateus 5, 27-32

        O Evangelho de Mateus é uma verdadeira catequese que o evangelista dá à sua comunidade. É dividido em 5 (cinco) livrinhos, a saber: 1° A Justiça do Reino (capítulos do 3 ao 7), 2° A Dinâmica do Reino (capítulos do 8 ao 10), 3° O Mistério do Reino (capítulos do 11 ao 13, 52), 4° A Igreja Semente do Reino (capítulos 13, 53 ao 18) e 5° A Vinda Definitiva do Reino (capítulos 19 ao 28). Este Evangelho de hoje pertence ao capítulo quinto de Mateus, que é o início do chamado Sermão da Montanha. Trata-se de um longo discurso de Jesus que culmina com uma belíssima oração de Jesus dirigida a ao Pai (Cf. M 11, 25-30).
            O Evangelho desta sexta-feira pertence ao 1° Livrinho onde o evangelista procura trabalhar a Justiça do Reino. Mateus quer mostrar para a comunidade a qual ele escreve seu Evangelho que a justiça dos homens seguem a lei pela lei, isto é, que se trata de um mero cumprimento de normas e regras. Ao agirmos dessa maneira, acabamos por realizar gestos vazios, que não dizem nada. Mateus mostra, também, que aquele o aquela que faz uma adesão ao projeto do Pai apresentado por Jesus, que a sua Justiça tem que estar acima da justiça dos homens, que não se trata pura e simplesmente de cumprir a lei pela lei, mas, que a lei tem que ser superada por um agir que promova a vida e traga a liberdade às pessoas.
            Jesus radicaliza até à interioridade a fidelidade matrimonial, apelando aoamor verdadeiro e leal. O adultério começa com o olhar de desejo, e o mal dever ser cortado pela raiz. A exceção citada no v. 32 pode referir-se ao caso de união ilegítima, por causa do grau de parentesco que trazia impedimento matrimonial segundo a lei (Cf. Lv 18, 6-18 e At 15, 29). Agindo dessa maneira, Jesus faz com que a lei seja superada por uma nova regra: a regra do AMOR que tem que estar acima de tudo, um amor que se dá na liberdade dos filhos e filhas de Deus. Dentro dessa dimensão profunda do amor se encontra o ser humano.
            Deixemos que essas palavras de Jesus penetre todo o nosso ser, a nossa vida e nos mostre o caminho a ser percorrido. Caminho da vida e do amor que percorremos juntos, formando a nova comunidade dos filhos e filhas de Deus. Que essas palavras do Santo Evangelho encontrem um chão fértil em nossos corações.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

CONVERSÃO E RENOVAÇÃO EM OSÉIAS 14, 2-9 (por José Bakir)

1.    Situação religiosa de Israel
Dentro desta questão da situação religiosa, Israel vivia em uma situação de infidelidade. Esta infidelidade se mostra antes de tudo no culto a Baal, que era considerado o deus da fertilidade. No culto a Baal se praticava às vezes a prostituição sagrada, o que acarretará a infidelidade das mulheres, os filhos bastardos e a esterilidade. No culto a Yhwh continuava a perversão de representá-lo em imagem de ouro. Outra forma de infidelidade são as alianças políticas, em particular com a Assíria e o Egito, dos quais o poderio político e militar ocupa o lugar de Deus. Suas conseqüências são a dependência política e econômica, tributos pesados, por fim a repressão e a deportação.
Com relação ao culto aos baal (senhor/proprietário = deus da fertilidade) a religião baalista é, fundamentalmente, da natureza e procura garantir a fertilidade do solo e dos animais. Aqui se percebe a diferença com o javismo que prega uma questão ética no relacionamento entre os seres humanos. Quando Baal não consegue realizar a tarefa dele, vem a seca, o que quer dizer que Baal morreu. Na realidade ele estará sempre nesta luta contínua com as forças da natureza. Quando ocorre o período da seca, que quer dizer a morte de Baal, Anat, sua irmã/esposa, luta contra Mot, vence e liberta Baal que volta a trazer as chuvas e a fertilidade sobre a terra.
O que acontecia no culto a Baal era uma hierogamia (casamento sagrado) era uma mímica do que aconteceu entre Baal e a natureza. A chuva representa o esperma de Baal fecundando a terra. Dentro do culto tinha a questão das imagens como representação de Baal.
A diferença do baalismo com o javismo é que o javismo tem uma preocupação ética no relacionamento entre as pessoas, é uma religião de um Deus presente na história do seu povo e a terra pertence a Javé, o homem apenas cuida dela. Como Baal não tinha lugar comum onde pudesse ser cultuado, era fácil expandir o baalismo. Em se tratando de prática de rituais os israelitas aprenderam dos cananeus que tinham uma cultura religiosa sedentária.


2.    Israel sempre tendente ao pecado
O profeta inicia seu profetismo a partir de uma experiência pessoal: apaixonou-se e casou-se com uma prostituta. Tal experiência o marcou profundamente, pois, ele a amava muito e ela o abandonou. Mas, apesar de ter sido abandonado pela mulher amada, ele continuou a amá-la e a recebeu novamente, depois de pô-la à prova.
A experiência de vida do profeta é de suma importância para sua pregação. Seu matrimônio não foi um ato simbólico. Isto realmente aconteceu na vida do profeta e se dá pelo fato de os nomes da mulher e do pai dela na ter nenhuma relação simbólica. Outro fato é o nome da filha em uma realidade machista. Sua vida transforma-se em uma espécie de parábola que o ajudará a compreender o processo de relação de Deus com o povo que leva a uma conversão e servirá de auxílio em sua pregação.
Em Oséias é expresso pela primeira vez a relação entre o Senhor e Israel nos termos de um matrimônio. Toda sua mensagem tem como tema principal o amor de Deus desprezado por seu povo. A imagem do amor do profeta por uma prostituta relacionada ao amor de Deus por Israel exemplifica bem a idéia de um povo que tende sempre para o pecado. Dificilmente uma prostituta se converte totalmente a um único homem, ou melhor, a único amor. Ela pode permanecer ligada a este amor por um determinado tempo, mas, volta a se “perder” entre outros amores por causa de sua infidelidade. Assim como a prostituta, Israel portou-se como uma mulher infiel e provocou a ira e o ciúme de seu “esposo divino”, o qual não deixa de amá-la, e a castigará, mas, com o desejo de reconduzi-la a si e devolver-lhe as alegrias do seu primeiro amor.
É esta relação que vai permear o relacionamento entre o Senhor e seu povo Israel. De um lado o povo que permanecia infiel e fazendo cultos aos baais. Do outro um Deus que ama e está sempre disposto a perdoar.

3.    Javé está sempre disposto a perdoar
O eixo central da pregação de Oséias é a teologia do amor de Deus para com o seu povo. Quando o profeta pensa esta temática ele pensa, como conseqüência da acolhida deste amor, em uma atitude de miséria entre o povo.
A compreensão da relação deste amor se dá a partir da experiência concreta na vida do profeta, pois, para ele esta relação está ligada a uma fidelidade de Israel a este amor. Para ele o amor de Deus independe da resposta de Israel (11,9). O amor de Deus é totalmente gratuito. Este conceito de amor-misericórdia se torna central na pregação de Oséias e torna-se mais figurante na medida em que Deus tem amor por um povo que não tem amor. O cap. 11 é um relato do conflito entre Deus e o povo por causa desta relação deste amor.
A razão é significativa: “um homem cederia à cólera provocada uma e outra vez, desligar-se-ia de um pacto violado pela outra parte”1. Deus, porém, não está condicionado pelo comportamento humano: a santidade de Deus pode manifestar-se convertendo e salvando. Não obstante o comportamento obstinado do povo, o Santo continuou no meio do seu povo, não atingido pela agressão do inimigo nem pelo afastamento dos seus. Somente atingido e como que transtornado por amor mais forte que tudo o mais.
No capítulo 11 o profeta compara a relação entre Deus e Israel como a relação que existe entre pai e filho. Embora não compreendido, Javé permanece fiel e, no seu amor, continua sempre de braços abertos para receber o filho de volta. É este o amor que Deus tem para com o seu povo, um amor incondicional que não mede esforços. Com isto o profeta quer mostrar que o Senhor tem em vista a reconciliação de seu povo com Ele.
Oséias revela a questão do “conflito” existente entre Iahweh e seu povo escolhido. Porém, a palavra de Deus fala mais forte e esta palavra é do amor. Um amor incondicional que, apesar dos erros cometidos pelo povo, é capaz de perdoar e renovar a aliança feita com o povo. É deste amor que o profeta fala ao relacionar a sua experiência de vida com a experiência de Deus para com Israel.




4.    Compreendendo o texto de Os 14, 2-9:
5.    2. Volta, Israel para o Senhor teu Deus,
pois, tropeçaste em tua falta.
6.    Chamado à conversão e ao arrependimento.
7.    3. Levai as palavras na ponta da língua, voltai-vos para o Senhor e dizei-lhe: “Perdoa toda culpa e segura a felicidade, e nós retribuiremos com o fruto dos lábios”.
8.    Não se fazem cálculos interessados, fundamentados em falsas seguranças: pede-se o perdão e há o propósito de corrigir-se. O povo apresenta agora como dom a confissão de seus lábios.
9.    4. A Assíria não nos pode salvar, não montaremos a cavalo e não diremos mais ‘Nosso Deus’ às obras de nossas mãos, _ ó tu que tens piedade do órfão!”.
10.  A Assíria sintetiza a política de alianças, a cavalaria representa o poder militar. O Deus de Israel é essencialmente salvador, não por mérito ou direitos do homem, mas, porque se compadece dos fracos.
11.  5. Vou curar de sua desobediência, eu os amarei com generosidade, pois a minha ira afastou-se dele.
12.  Resposta divina à confissão do seu povo que anuncia a vitória do amor sobre a ira.
13.  6. Serei como o orvalho para Israel, ele há de florescer como o lírio, lançará suas raízes como cedros do Líbano.
14.  Orvalho autêntico e efêmero. Fala da prosperidade de Israel que está representada pelo lírio.
15.  7. Seus galhos se espalharão, seu esplendor será como o da oliveira e seu perfume como o do Líbano
16.  Fala do futuro do povo de Israel.
17.  8. Voltarão aqueles que habitavam à sua sombra; farão reviver o trigo, florescerão como videira, sua lembrança será como a do vinho do Líbano
18.  “Sombra” oposta à idolatria de 4, 13. Seguindo o movimento das comparações, corrigimos o texto massorético, que diz: “darão vida ao grão” 7, 14 e 9, 1. Como videira, segundo 10, 1.
19.  9. Efraim! Que tenho ainda a ver com os ídolos? Eu é que tenho a resposta e quem olha para ele. Eu sou como cipreste sempre verde, de mim é que brota o teu fruto.
20.  Deus é quem fala. Ele nada tem a ver com os ídolos, “responde” à confissão e a súplica do povo, “olha” a sua aflição. Somente Deus pode assegurar a fecundidade de Efraim.

21.  Lugar e papel da perícope no conjunto do texto
Esta perícope é colocada no final do livro do profeta Oséias e nos remete ao início de sua profecia. O objetivo da pregação do profeta é provocar a conversão. Contudo, a mortandade não constitui o final. O lugar que ocupavam 2, 15-25 e 11, 8-11, em suas respectivas unidades, o ocupa este final, que é além disso final de todo o livro. Por isso não é acidental que se abra com chamado à conversão e termine com a garantia dos frutos.
A perícope que antecede é 13, 12-14, 1 que trata da ruína inevitável. Nesta perícope percebe-se que em marco que fecham pecado e reato, apresentam-se duas imagens rápidas de fecundidade, tanto no mundo humano como no vegetal. Entre as duas compõem a correlação de culpa e castigo.
As dores fecundas da parturiente são imagem que vai passar até o pensamento apocalíptico como dores da história a fim de dar à luz nova era. Assim como existe uma sensatez ou instinto vital que ensina às escuras, também existe um juízo ou sensatez histórica, que o homem cultiva e a palavra de Deus educa. O contrário é a inconsciência ou rebeldia fatias: recusar a brecha pela qual se sai para a luz e para a vida. Temores, nostalgias avitas que nos deixam fechados e sepultados, com nosso pecado e nossa culpa. O que liberta são a firmeza vigilante, o rompimento corajoso. Oséias nos transmitiu nestes versos um símbolo magnífico e riquíssimo que diversos autores, tanto do AT como do NT, encarregar-se-ão de explorar.
A perícope que segue a que estamos trabalhando aqui é 14, 10. Este pequeno trecho trata da questão da advertência final. Acredita-se que se trata de um acréscimo em estilo sapiencial2.
O autor que, com os oráculos de Oséias, compôs o livro que leva esse nome, acrescentou esta nota final para o leitor. Com um par de repetições, ele a aprendeu ao resto do livro. A leitura pode surtir estranha e difícil, exige esforço de compreensão como também atitude correta. Porque o livro descreve os caminhos, o estilo de Deus, que em si são sinceros e retos. Se o homem que os percorre tropeça, se escandaliza, isso é devido à sua atitude rebelde. Compreender não é ato puramente intelectual: não é ato, visto ser caminho que se percorre, não é puramente intelectual, visto exigir atitude correta. Não se trata de ciência, mas, sim, de sabedoria. A palavra profética convida e desafia o homem.

6.    A esperança de Javé em ralação a Israel
Como já foi dito anteriormente o objetivo da pregação do profeta é provocar a conversão3. A esposa infiel (Israel) não só é reprovada e censurada pelo esposo fiel (Javé) irado, mas, é também, e principalmente, cortejada e convidada a retomar seu amor verdadeiro e deixar seus amantes, sua prostituição.
A palavra chave do livro é converter-se, voltar. De fato, nestes últimos oráculos, há uma chamada à conversão, uma confissão do povo e o perdão divino. Também fica mais uma vez evidente que são os “amantes” que levam um povo à “prostituição”. É a política de submissão a potências estrangeiras, a confiança no poderio militar e o culto a outras divindades, enfim, em nada disso se podem encontrar a certeza de uma recuperação política, um florescimento econômico e até mesmo a salvação. Podemos concluir que todo o livro de Oséias gira em torno do primeiro mandamento do decálogo.
O eixo central da teologia de Oséias é, em suma, a teologia do amor de Deus para com seu povo. Quando o profeta pensa esta temática ele pensa, como conseqüência da acolhida deste amor, em uma atitude de misericórdia entre o povo. A compreensão da relação deste amor se dá na experiência concreta na vida do profeta, pois, para ele esta relação está ligada a uma fidelidade de Israel a este amor. Para Oséias o amor de Deus independe da resposta de Israel (Os 11, 9). O amor de Deus é totalmente gratuito. Este conceito de amor-misericordia se torna mais figurante na medida em que Deus tem amor por um povo que não tem amor. O capitulo 11 é um relato do conflito entre Deus e o povo por causa desta relação de amor.
Para que realmente haja um verdadeiro amor do povo por Deus, é necessário ter um conhecimento deste Deus. Não se trata de um conhecimento teórico/científico, mas, sim, de um conhecimento interno, de uma experiência pessoal, de comunhão profunda de Deus. O profeta fala de que o povo de Israel não tem este “conhecimento de Deus” (6, 6). A fidelidade a Deus não reconhecida em um culto falso, mas, na prática da misericórdia. Neste sentido o profeta culpa os sacerdotes. O profeta se levanta contra esta lógica e não culpa somente o povo (4, 4-10 e 6, 9)
A falta de conhecimento de Deus gera a falta de misericórdia que, por sua vez, gera a injustiça social. É como se eles praticassem injustiças e não tivessem nenhum pesar. Da parte do profeta, ele acredita que Israel não é um povo confiável (6, 4). Ele quer dizer que a fidelidade de Israel é quase inexistente (9, 10). Trata de um amor que de nada vale, pois, na primeira oportunidade eles pecam. Em Os 12, 4-5 diz que ainda no seio materno já se cometia injustiça.
O profeta apresenta um Deus que está sempre disposto a amar e a perdoar. Deus tem pelo seu povo um amor incondicional e sempre age em favor dos seus porque foi Ele mesmo quem os escolheu. Ao mesmo tempo Deus espera que também o seu povo use de misericórdia no relacionamento entre eles. É a prática deste amor fraterno e a fidelidade a Javé que livrará o povo da idolatria e, por conseqüência, das injustiças sociais.

7.    Relação entre Os 14, 2-9 e a experiência matrimonial do profeta
Esta perícope trata de um convite à conversão feito por Deus, através do profeta, a seu povo Israel. Para que realmente haja uma conversão verdadeira é necessária uma abertura de ambas as partes, tanto daquele que está chamando a conversão, quanto daquele que está sendo convidado. Neste sentido Deus se coloca inteiramente aberto para perdoar seu povo.
Na relação desta passagem com a experiência matrimonial do profeta que é abandonado pela mulher amada, é o profeta quem vai atrás e faz com que sua esposa se arrependa do mal que fez e volte ao seu senhor. É bonito de se perceber que a tentativa de esquecer a esposa é inútil. O amor é maior que a humilhação e provoca a esperança de que ela mude de atitude. Quem sabe tratando-a com carinho, fazendo uma nova viagem de núpcias, ela reconheça seu erro e volte ao verdadeiro amor, ao recordar os primeiros tempos de casamento.
É exatamente o que Deus faz com seu povo. Relembra os tempos quando o libertou da escravidão do Egito, fazendo com ele uma aliança no deserto. Agora, mais uma vez, promete-lhe paz e abundância na terra da promessa. Embora não compreendido, Javé permanece sempre e, no seu amor, continua sempre de braços abertos para acolher a “esposa” de volta. É deste amor que nos fala esta relação matrimonial do profeta e a relação entre Deus e o povo.
No que diz respeito a esta relação de amor entre Deus e Israel Amsler diz que:

A história de Iahweh e Israel, começada como um encontro amoroso, termina com a evocação da união fecunda de Deus e de seu povo (14, 9; 2, 23-25). O Deus de Oséias é Deus de amor: a primeira palavra nessa aventura foi dele e dele será também a última.4

Aqui se percebe que desde o início esta relação existente entre Deus e o povo é permeada pele amor. Nesta relação quem permanece infiel é o povo e Deus, com sua fidelidade, permanece aberto e disposto a perdoar. Quando Amsler fala que a última palavra é a de Deus ele se refere exatamente a este amor que norteia a relação Deus = homem.

8.    Conclusão
Para o profeta, o conhecimento de Deus não é uma atitude intelectual, mas, uma adesão amorosa, através de uma prática que corresponda ao projeto de Deus, elaborado no deserto por ocasião do êxodo. Então sim: Javé receberá novamente seu povo como “esposa”, dispensando-lhe todo o carinho (2, 4-25), ou tratando-o como um filho.
Já que Oséias teve a audácia de dizer, é preciso que também nós digamos com ele: O Senhor é um Deus apaixonado. Fala do seu desejo, da sua decepção, da sua indignação, da sua cólera e também da sua ternura. É importante perceber que esta ternura é sempre mais forte, pois, a última palavra não pertence à cólera e à punição, mas, à felicidade numa união para sempre fiel. Trata-se de uma ternura que é o contrário da fraqueza: é força de Deus, capaz de transformar o coração do homem e de fazer desaparecer até a recordação do pecado. Deus não espera o retorno do pecador para ir-lhe ao encontro.
O livro de Oséias vai ao que há de mais profundo na teologia e na piedade, pois, revelando a ternura de Deus, reverá Deus tal como Ele é: Amor. Esta definição também se encontra no Evangelho de João onde ele nos diz que Deus é amor. É preciso que saibamos compreender o que realmente este amor, que é o próprio Deus e que Ele tem por nós, representa e significa para nós. A partir do momento que compreendermos este amor, compreenderemos também a mensagem belíssima do profeta.




BIBLIOGHRAFIA
SCHOKEL, L. Alonso e DIAZ, J. L. Sicre. Profetas II. Grandes comentários bíblicos. São Paulo: Paulinas 1991. pp. 887-951
AMSELER et alii. Os profetas e os livros proféticos. São Paulo: Paulinas, 1992. pp. 67-95
Introdução das Bíblias Jerusalém, TEB e Pastoral
1 Cf. SCHOKEL e DIAZ. Profetas II. Grandes comentários bíblicos. São Paulo: Paulinas, 1991. p. 941.
2 Cf nota “e” em Os 14, 10, Bíblia de Jerusalém
3 Cf nota em Os 14, 2-9, Bíblia Pastoral.

4 AMSELER et alii. Os profetas e os livros proféticos, p. 79

quinta-feira, 6 de junho de 2013

LUCAS 15, 3-7

Este evangelho de hoje pertence ao capítulo 15 (quinze) do Evangelho de São Lucas. O capítulo 15 de Lucas é o centro de toda a sua mensagem, tanto do Evangelho, quanto dos Atos dos Apóstolos, onde o ápice é a parábola do Pai Misericordioso (cf. Lc 15, 11-32). As três parábolas são marcadas pela procura, pela alegria – que em Lucas trata-se da alegria escatológica – e pela espera.
            A narrativa de hoje é a ovelha perdida. Esta narrativa é um convite feito a cada um de nós, que lemos e rezamos este evangelho no dia de hoje, a olharmos pra dentro de nós mesmos e a refletirmos sobre nossas atitudes. E nesta reflexão nos questionarmos: Será que temos coragem de abrir mão daquilo que temos e somos para irmos atrás desse algo mais que Deus tem a nos oferecer? Num primeiro momento a nossa resposta pode ser positiva. Mas, como dizia o saudoso economista Joelmir Beting, “A teoria, na prática, é diferente”, isto é, no momento de colocarmos em prática a nossa resposta, não o fazemos.
            Há que se questionar também por que deixar noventa e nove ovelhas e ir atrás de apenas uma? A resposta é muito simples e, até certo ponto, lógica: é porque esta ovelha que se perdeu é a mais bonita, a mais valiosa aos olhos do dono. Com isto, o evangelista quer nos dizer que para Deus temos um valor imenso, somos belos aos olhos do pai. A parábola não quer dizer que Deus prefere o pecador ao justo, ou que os justos sejam hipócritas. Ela ressalta o mistério do amor do Pai que se alegra em acolher o pecador arrependido ao lado do justo que persevera. Não devemos esquecer que, em Lucas, a alegria é escatológica, isto é, a alegria de entrarmos todos no Reino de Deus.
            Hoje a Igreja nos convida a celebrarmos a festa do Sagrado Coração de Jesus. Celebrarmos esta festa é lembrarmos que do coração aberto de Jesus jorrou sangue e água em sinal de uma entrega total, uma doação. É lembrarmos também que toda a humanidade está colocada no coração de Jesus, no mais intimo de Deus, de onde só pode sair coisas boas e belas. Nos mostra a beleza de um Deus que se revela a nós na simplicidade das coisas, na beleza do amor de um Deus que nos ama muito. Aprendamos com Jesus o que é o amor. Deixemos que este amor penetre o nosso coração e nos transforme, nos dando vida e força na caminhada. Amém!